quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Capítulo X - No Caminho do Cisne

No mesmo país, duas estações. O norte e nordeste, úmido e calorento. Sul frio, sudeste temperado. Centro-oeste seco e quente. No lago gelado cisnes (de-pescoço-preto); tão leves que parecem papel sobre a linha-d’água. Exceto pelo vento, que diminui a sensação térmica ainda mais. Ondulando um tantinho o imenso lago no suleiro parque. Num banquinho de madeira uma solitária figura fuma seu lenitivo cigarro. Quem não fuma não entende a maravilha do tabaco. A fumaça no frio acalenta os pulmões, assim como uma leve sensação de euforia e bem estar invadem cérebro. Tudo fica bem, os pensamentos ficam mais claros, tudo é passível de ser administrado. Os neurônios parecem mais vivos do que nunca. Como é bom...
Sete, encapotado em seu sobretudo preto, fuma cigarros light. Precisa mexer as peças, está particularizando uma estratégia. Perdeu seu candidato, vai precisar alugar outro (Um). É pouco. Existe outra ameaça também. A candidata do partido do meio-ambiente. Sim... perigosíssima. Candidatura de última hora, rápida catalisação nas pesquisas. É preciso fazer algo...
Liga para Três.

Após uma campanha maravilhosamente bem sucedida, Cinco era secretário da cultura. Respondia diretamente ao seu “amigo” e recém eleito Um. Nada era impossível, um rolo compressor, uma força que dizia à montanha: - afasta-te! E ela se desfalecia.
A honestidade era o lema, era a lei. Eram mais que os outros, eram diferentes, eram o novo, eram os super-poderosos (os foderosos). Tinham suas estrelas na agremiação, Um, por exemplo; suas foices que ceifavam os fariseus do mandato anterior (que eram como cães deitados nas manjedouras dos bois. Não comiam, nem deixavam os bois comer),por fim, os martelos, como Cinco trabalhavam como burros de carga no engajamento das “causas” que chovessem em seus jardins. Fé cega.

Nove em meio aos seus, hum..., asseclas ditava as próximas medidas. Desoneração fiscal, reclames de repasses e super-faturamento na obra do anel viário. Só se põe o primeiro cimento, quando todos os pingos estiverem nos is. Era impressionante sua capacidade intelectual, os planejamentos, as diretrizes, a frieza e inabalável calma ao lidar com os problemas. Na dialética de 9, só cabia contra-argumentar monossilabicamente (hum), no máximo, amém.
Chegam à távola redonda, Seis, Dez e Um, cumprimentam todos os presentes pelo nome (o egípcio livro dos mortos foi de grande utilidade aqui). Nove, somente acenando, analisa, prepara sua estratégia:

Seis, começando: -Senhores, acho que não é mais segredo para ninguém aqui que estamos em campanha , e Um é nosso candidato.
Nove: -E qual seria o motivo de tão cordial visita, se não para pedir dinheiro.
Não tem papas na língua, é bom em constranger e sumarizar o assunto. Daí sua grande capacidade para negócios.


Um, em retomada: -estamos dispostos a ceder.
Nove, à Jaba, The Hutt: o quanto?
Um: 25% das licitações. 100% da merenda escolar.
Nove, muito bem informado por sinal: -Não vai recuperar o prejuízo que deu ao teu partido. Estamos com 365, a candidata do meio-ambiente. Desista vá embora.
Seis, nervosamente testa antes que tudo se perdesse: -Senhores... senhores calma. Acho que podemos chegar a um meio termo. Não podemos ceder totalmente a construção civil, realmente temos esse prejuízo. Todavia, garantiremos a merenda, com exclusividade (frisando exclusividade). Em um ano podemos reerguer para a campanha presidencial. Existe um bônus senhores... é... sim, existe um bônus... os medicamentos do sistema de saúde. Retiraremos as câmeras, e colocaremos nosso pessoal. Os medicamentos serão exclusivos de Vossas Senhorias, assim, que recuperarmos o dano, ruas, casas populares; porém só o suficiente para encostar no limiar da lei de responsabilidade. O valor de V.Sas. é X!
Nove: -hahaha, muito pouco.
Seis: -Como!? Demos tudo, é mais do que o suficiente. O que mais você quer?
Nove: -Fidelidade.
Seis, Um e Dez, olhando uns para os outros, sem entender.
Nove, em continuidade: -quero fidelização, certeza absoluta que mais pra frente não serei passado para trás.
Seis: -... tem a nossa palavr...
Sem conseguir terminar.
Nove, peremptoriamente: -Senhores, saiam! Um fica.
Todos os asseclas encolhem seus ombros e como cachorros colocam seus rabos entre as pernas caminham para fora.
Seis entendendo o que está para ocorrer, começa a tremer.
Dez, em cochicho para Seis: - o que vai acontc...
Seis: -cala boca! Vambora.
Um: -onde vocês vão?
Seis: -desculpe, mas vai ter que passar por isso. Nada aconteceria se não fosse culpa sua.
Um: eu... eu... como pode?!
Seis, encostando a mão no ombro de Um: -meu caro, ou é isso ou é a morte.

Seis praticamente sai empurrando Dez para fora da sala: -vamos esperar na rua.

Um em desespero vê Nove ligando uma câmera: -Vire-se e encoste na mesa Um!
Assim que a câmera é ligada Um começa e ser sodomizado.

Quatro, dentro do muquifo de Cinco:
-Não podemos deixar isto acontecer, leve os documentos para Sete.
-Pra que? Não quero, vamos esquecer.
-Meu, meu pai disse. Disse que você tinha a papelada. Só Sete pode deter Um nesse momento.
-É jovem, e é idiota. Vá.
-Olhe pra você! Que decadência, que porcaria. Poderia ter tudo e está aí, caidão. Fazendo papelzinho pro partido, jogado pra escanteio. Em troca do que? Ideologia de m...
-Cala a boca! Sabe de nada.
-Direi a Sete, que aceitou, é pro seu bem.

Quatro saí. Sete lhe dera o caminho das pedras, agora é só esperar acontecer. A raiva só aparecerá quando Cinco vir Um na tevê, todos os dias no horário político. O coração dos homens é sempre igual. O orgulho e a vingança.

Quem conhece o pai e mãe pode ser chamado de filho de uma prostituta?

Acho que não.

Foi de repente. Cinco adentrou o gabinete de Um vislumbrou Oitenta e Cinco de joelhos ante 1. Foi como uma chibatada no músculo cardíaco. Com a testa fervendo, nada mais importava, o que iria fazer lá, o que ia falar... saiu correndo.
Todos os pensamentos atravessando suas ideias, as lembranças, o que achava que sentia, o que achava que sentia por ele, o orgulho, o desespero, mas principalmente, a impotência. A maldita sensação de que não é bom o suficiente para dar tudo o que 85 precisaria. A fidelidade, a paixão com que adentrou na causa... Nada a impressionara? Sou pior do que Um?
Quando não se aceita ser corno é muito pior, pior porque reflete em todos os atos da vida civil. Tudo fica uma b...

A estrela se apagou. Cadente... caiu.

Aproveitando a saída de Um, Seis e Dez, Dois e Oito aproveitaram para se encontrar no quartinho de empregada. Abafado e úmido, era perfeito para um coito vespertino. Após o ato em si, 2:
-Como você conseguiu estes músculos?
8: -De tanto puxar a carroça.
2: -Puxa muito, meu gato?
8, com seus poucos dentes: -Às vezes o dia inteiro (com um certo orgulho).
-Muitas vezes sem comer nada.
2 impressionada: -E como você agüenta?!
8: -Com isto.
Saca um saco plástico com pequenas pedrinhas brancas. Dois se assusta:
-Meu Deus, que que é isso?!
8: -pedra. Pra tirá a fome, pra trampar...
Dois cada vez mais assustada:
-Num quero isso aqui não. Tira isso daqui.
Oito, dando a menor pelota, tira um cachimbo do bolso e queima a primeira pedra (barulhinho típico). Vira o cachimbinho para Dois, nervosamente:
-Se não der um aqui te encho de porrada! Fuma esta m... Se fumar uma só eu saio.

Só que uma só já é o bastante. Mesmo que não se trague, o calhau traz a euforia e uma pequena sensação de que tudo-pode, tudo-se-faz... um certo bem-estar. A primeira é sempre a mais inacreditável, é a melhor....

Sete termina seu cigarro. Olha o relógio e pensa: -ela não vem. Quando se levanta vê que ela está vindo em sua direção. Um porte elegante, como um cisne na lagoa. Sua boina, seu casaco de pele, mãos finas e olhos extremamente azulados. O vento espalha um pouco dos seus louros cabelos, numa valsa a dar sentido à natureza.
Quando ela chega, o cumprimenta com três beijos no rosto. 7 está mais leve, a beleza alivia a alma. Isso é uma coisa espirituosa dos giletes. Eles se dão bem nas duas direções...

Onze é estonteantemente linda.

Ю

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