-Aquela P***tituta!-
-Calma, muita calma lá.-
-Não, não, não, não, como pude ser tão burro?-
-Foi pra Portugal perdeu o lugar- Você e suas Raves, Baladaaaadas, Mocinhas muito soltas- Seu pai noivou, você não veio; Casou, você não voltou, Morreu e você só chegou depois- Ela levou a metade oras! Tá chorando pelo leite derramado?-
-Mmmmm...
-Tá aqui Seis Mil, o código civil fala: "Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: II - da pessoa maior de sessenta anos;" Aqui, papai casou... casou em comunhão universal! Esse é o pulo do gato.
-Tolo... tolinho- Passou, ele juntou, casou, viveu e morreu. A-c-a-b-o-u, c'est fini. Já falei antes: Foi pra Portugal perdeu o lugar. Mesmo que pudesse contestar a meação de Três, o dispositivo é incostitucional, perderia mais pra frente, nos tribunais.
-Como essa desgraçada pode?!
-O que você queria Quatro? Foi muito justo para ser sincero.
-Não entendo?
-São sócios oras! Ele entrou com o dinheiro, ela deu sexo, fe-lo sentir-se jovem outra vez, desfilava com ela... Ela, ãh, deu algo em troca.
-Onde quer chegar?
-Herdeiro não é profissão.
Quatro retira-se pateticamente ofendido. Com certeza não era o que esperava escutar; perdera mais do que podia esperar. Perdera porque não entedia os fatos da vida. Ele ambicioso, sua (hummm) madrasta, também ambiciosa. Sim, ambos ambiciosos e arrogantes, todavia lhe escapava um pequeno detalhe: Ela era esperta e ele, idiota.
Existem vários chavões para a idiotice. Mas não perco meu tempo para este, era a idiotice padrão acompanhada pela velha soberba; uma criação deveras mimada. A criação que faz um crianção e não prepara para o mundo. O bezerro que desmamou mas não sabe pastar... agora vai pastar.
Sessenta e Um e sua esposa Sessenta e Um-A, não tocaram sequer no cocô do filho, havia sempre uma espécie de Dois para tratar do rebento, uma babá, uma governanta, uma aia...
O já batido tema dos pais ausentes que tentam compensar com bens materiais não foi exceção aqui, apesar da humanidade contar com milhares de anos, os erros são sempre os mesmos.
Na escola era chato, no restaurante chorão, no parquinho de diversões brigão... Criança pentelha. Cresceu, não se apegou a ninguém. Namorava, comia, se divertia e jogava fora. Consumia mas não produzia. Cansados de sustentar os gastos compulsivos do filhote, além das más sociedades em boates modernas, 61 resolveu jogar o rebento no exterior. Assim seria melhor, para a paciência, para a polícia, para a família e para o bolso.
61-A morreu, no entanto 4 estava muito longe para o velório. Na família foi um escândalo, mas dava para entender. Não se afeiçoou à mãe, achava-a chata.
Todavia com a morte de 61 tudo ficou foi mais difícil, a fonte havia de secar. Tinha que voltar e voltou: seis meses depois do enterro, para receber o quinhão. Recebeu, ahhh sim, recebeu... A metade. Três chegou antes de Quatro. Na débil força juvenil tentou reverter, mas era tarde demais, Seis Mil teve a audácia de falar a verdade. Triste Mais Vrai (se é assim que se escreve, não é "vai" não é "vrai" mesmo).
Sabia o que Três havia feito para Um, sabia que sua meia fortuna logo haveria de se corroer, sabia que precisaria de ajuda, mas de quem?
Cinco datilografava pacientemente na sua velhíssima máquina de escrever, aquela da marca O. Detestava computadores pois faziam sua mão esquerda e pulsos doerem mais. Gostava de velharia, de colecionar. Era miquelino o suficiente para dependurar pôsteres como se fosse um menino. Sua sala com parede descolorida, janela basculante defeituosa, parquet desalinhado e esburacado não inspiravam a menor confiança. Óculos sujos, barba por fazer, camisa suja e rasgada, suor (sem sangue nem lágrimas) e Quatro abre a porta sem bater. Assim, no meio da minha descrição, atravessando meu texto. Sim! Meu próprio personagem me atrapalhando. Horror!
Bufando:
- Cinco!
- Nem pensar!
- Mas eu não disse...
- Nem quero saber.
- Eu preciso...
- Xiiii, não mesmo.
Fechou a porta na cara de Quatro.
Quintos dos Infernos!
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