segunda-feira, 5 de abril de 2010

Capítulo XIV - A Torre Quântica



 Uma Torre Quântica não é propriamente uma "torre". Não é uma construção redonda ou prismática, alta e estreita, erguida em direção aos céus. Aqui, a TQ, é construída para baixo, em direção ao núcleo duro. Não é um buraco, pois sua base inversa se relaciona às medições de variáveis complementares, tais como a posição e o momento e o mais importante, "a circunstância''. Exagerado um "círculo de circunstâncias" que podem ser facilmente confundidas com sombras platônicas, o que não são. Já foi chamada de "Deus", "Destino", "Predestinação", mas tudo não passa de um complexo sistemas de iguais infinitesimais intocáveis pelas variáveis, assim, mesmo que se molde o/ao tempo (aqui concebido como massa de modelar) futuro-presente e vice-versa, ela é imutável. E, até segunda teoria, chamemos-a "Torre Quântica Concretista", pois, caso sobrevenha contraprova retomando a antiga e falha lei distribuitiva, poder-se-ia conceber-se a Torre Quântica Abstrata. Como isto ainda não aconteceu, seguiremos com a ordinária:


 Le Postillon, de Adolphe Adam não soava doce aos ouvidos de Um. Os intrincados elementos angelicais das óperas não entram na mentalidade ordinária dos brasileiros em geral. Somos todos uns funkeiros mesmos! Uns imprestáveis e merecemos este zé povismo por demais emaranhado para se extirpar. É o nosso câncer.
 Na campanha é preciso onipresença, onisciência e se possível, onipotência. Cercado por um batalhão de assessores, puxa-sacos, seguranças e aspones, a propaganda ia às mil maravilhas. Os discursos inflamados, preferencialmente os improvisos eram ótimos, ainda assim, a programação cultural para fazer 'corpo a corpo' com o eleitorado patronal já é um tanto sacal. Com o povo, tudo bem, pratos nojentos e beijos remelentos, mas era outra coisa. Em contrapartida, esses programas por demais pomposos cingiam num tédio desmedido. Ópera! ÓÓÓÓÓperaaaaa Chaaaaatooooo...
  
  Um está lá, Seis trabalha nos bastidores, cava por baixo. Dez está com ele, sempre. 
  6: - A candidata do meio ambiente subiu nas pesquisas. 
  Garganta: não está tão fácil pra vocês. 
  6: - Engraçado, então não sei o que estou pagando. Seus préstimos parecem um tanto defasados no momento. Isto me obriga a demiti-lo. 
  Garganta, ciente do significado de "demissão": - 3 corre por fora, está usando o dinheiro de vocês. Ela derrubou o governador de Brasília. Usou o testa. Vocês não têm nada a oferecer, ela pagou melhor, trabalhamos para quem paga melhor. 
  Seis pede a Dez que busque sua pasta, vira-se à Garganta: -Bem, da morte não teme tanto quanto contrariar os seus, safado. 
  Garganta: - Existem coisas piores que a morte. 
  6, sereno: - É, existem. 
  Dez lhe entrega a pasta. Um bela quantidade de dinheiro. 
  Garganta: - Parabéns Senhor, acabaste de ganhar mais uma eleição. 


  Garganta é 10.000.045, mas estou um tanto mandrião para digitar. Pequeno, pardo, corpo mirrado, barba por fazer. Segue solitário com seu grosseiro terno de risca de giz. É perfeito, ninguém suspeitaria. 


  10: - Mesada do meu avô?
  6: - Correto. Notou algo?
  10: - Não.
  6: - Os macacos, os miquinhos são animais selvagens, podem ser domados, mas não podem ser domesticados. 
  10: - i?
  6: - Quanto se habituam a ficar perto dos humanos, ficam muito atrevidos, invadem as casas, roubam comida.
  10: - Por que tá me falando isso?
  6: - Porque é preciso pegar um deles e matar a pauladas na frente dos outros. 
  10: - Porra! Mas pra que isso tudo, por que isso?! Que maldade.
  6: - Pra mostrar pros outros que não somos amigáveis. Assim eles não voltam nunca mais. 
  
 Seis saiu e Dez ficou...  
 Isto vai doer Garganta, vai doer pra valer. Nunca se esquece uma traição, por menor que seja. É preciso dar o exemplo aos outros.


 Dois já sofria os efeitos do crack. A terrível magnitude dos 5 minutos. O demônio já acessara o corpo, espalhava o vírus rapidamente. Ele controla, ele manda ir em frente, ele manda, ele comanda, ele ele ele...
 Oito sugerira, mas Dois segurava. Era difícil, o dinheiro mingua rápido. É preciso se sustentar. Sustentar o insustentável. 
 Os pedreiros tão rápido tornam-se zumbis. Diferentemente do pó, que pode tomar anos de uso para adentrar o abuso, a pedra é amor à primeira vista. Oito sabia o que fazia, ao sugar mais uma existência vazia, Dois. 
  Oito já era da favela. A rua chamou cedo, foi sem medo. Cola de Sapateiro, Conha, Farinha, Manguaça... Mas a pedra, ahhhhh, a pedra... a pedra é barata. Está sempre disponível. Na cracolândia, nos hotéis da cracolândia, com a meninas do crack. Safadeza! Safadeza com as meninas!! Cancro. 
  Sugeria limpar a casa de Um. Dois em reflexo chiou pela loucura. Mas para os cabeça-de-pedra não existe loucura, existe o fazer, existe o agora, existe a urgência da droga. Droga é uma droga, mas se é uma droga por que tantos usam?
Droga!    

3 sabia como cortar 1 da campanha. Não bastava ser ex-mulher, pois não existe ex-sogra. É para sempre. Penso até como um pedaço do inferno no plano terreno. Simplesmente descarregar o pente na face não adiantaria. Você até pode conseguir matar, mas alma retorna para lhe atormentar "eternamente". Não há macumba, mandinga, trabalho que faça ir embora. Pois, quando se assina o documento no registro civil, está assinando: minha inimiga. Depois do divórcio? Pior ainda: minha PIOR inimiga. Inimiga figadal.


  Só se gasta as burras para se lavar a égua. Despender doze mil reais em um mês de desintoxicação numa clínica, é preciso ser bom. Por falar em bom, 4 já carreava bons anos de vícios. Sua boçalidade tornara-se insuportável. Na vida, alguns inúteis cansam de ser(em) inúteis. A futilidade lhe chegava a doer os culhões. Tudo o que dizia, pensava, sonhava... palavras ao vento. Ninguém levava a sério. Um imbecil, diziam. 
  Apesar de degustar todas a "...ínas", dessa vez seria diferente. Desta vez ruminava uma coisa que se aproximava rusticamente de algo parecido a uma ideia. 
Obviamente não seria como seu pai, todavia poderia ser sua so(m)bra. Sair do ostracismo, agir, atingir... ser, uma vez na vida, significante. E começaria a partir do momento em que limpasse a mente. Hummm... Ou o que restou dela. 



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Capítulo XIII - O Bom calado é subjugado pelo Mau, o Mal grita.

Por toda sua vida 5 militou numa causa que hoje mal sabe o porquê. Foram tantos meios, que mal compreendia-se os fins. Odiou e defendeu 1 com toda suas forças. Levantou suas bandeiras, distribuiu seus panfletos, apitou contra sua oposição. Em suma, percorreu todo o circo que a militância política nos obriga a percorrer. Porém, o fio perdeu-se da meada...

Sua vidinha podre, seu corpo decomposto em nome de um devaneio pseudo-sabe-se-lá-o-que era. Dói perceber a própria inutilidade, a fraqueza e o desperdício da vida. A juventude ensacada e enterrada -não volta mais-. A vida passou.

A ignição acabara sendo dada ao perceber que traiu tudo aquilo que um dia acreditou.

Ser tolamente convencido por alguém com tão baixo intelecto como 4 era o que lhe doía mais. Pelo seu rancorzinho juvenil, entregou documentos que carregou a vida inteira, jurando esconder e proteger. Estava cansado, porém, ao mesmo tempo estranhamente aliviado. Perder mais do que tinha seria mendicância, não poderia ficar pior. Força meu camarada.



10 é muito verde, muito jovem. Ainda está na fase de ser contaminado por ideologias e repentes de euforia. 6 analisava seu pupilo. Sentia que haveria de amargá-lo. As tratativas de 1 com o asqueroso 9 havia sido um bom começo, mas precisava de mais.

1 aparece. Constrangido, mas eufórico:

-espero não ter contraído Aids quando a camisinha furou!

Seis, com seu contumaz sorriso sarcástico: -fechou ou não fechou?

Um: Meu c*, não, tá arregaçado!!

Seis e Dez riem, estão leves, tiraram o seu da reta.

Um também ri, 1 é um bom político, sabe se prostituir.

1, triunfalmente, como se declamasse às multidões, o mais teatral possível:

" meu povo brasileiro,

povo sofrido..."

Enquanto 1 contorcia sua cara em seu discurso imaginário, 6 para 10: quanto mais hemorróida mais convincente fica.

Dez sorriu mais uma vez.



O Senhor do Partido sentava-se sozinho. Está em uma das raras ocasiões em que permite-se não usar gravata. No tórax nu, percebem-se diversas medalhas de variadas entidades "protetoras". Nesta profissão há de ter proteção.

No Hades, acabara de ser informado de que 3 haveria de financiar a campanha da candidata do meio ambiente. E isto não pode acontecer. Mulher e Meio Ambiente?! Tinha asco!

Mulheres são bestas, Ecologia é atraso, dizia.

Havia também os outros dois candidatos: o seu e o que não levaria. A era das difamações públicas ficara para trás... bons tempos...



Não era cacique do partido, mas dado às leituras. Lia de tudo e tinha prazer pela manifestações culturais locais. Seu irmão mais velho estava destinado à política local, fora preparado pelo pai, pelo avô, pelo bisavô assim por diante. Por ser o segundo, não recebeu os privilégios dos primogênitos. Dessa forma tinha tempo livre para se dedicar às amenidades.

7511 era o candidato local da oposição. Com a ajudar do senador, seu irmão levaria. Não costumava participar de campanha, observava preguiçosamente à distância.

Uma semana após a eleição, obviamente fraudulentas (dispensa-se maiores comentários) e com suporte federal, seu irmão ganhara... mas não levara... fora assassinado no primeiro pronunciamento público como candidato eleito. O velho discurso: moradia, saúde e educação.

O caciquinho não sabia, não era vice, mas uma espécie de suplente. Haveria de assumir.

Uma semana após assumir, 7511 fora tocaiado.

Nunca mais abriu um livro na vida.

8, após catar todas as latinhas na beira da marginal, dormia embaixo de um  pontilhão. Certas pessoas 'são' porque querem, outras não. Infelizmente certos estragos jamais se recuperam. Certas vítimas metamorfoseiam em algozes. Quando a rua torna-se limpa, aconchegante e um bom lugar para se morar, é sinal de algo vai mal: 

Oito não conheceu o pai, mas fez doutorado em padrastos. Tão clichê quanto meu texto, foi o círculo vicioso da violência doméstica à ruptura familiar, à rua, à cola, à internação pelos atos infracionais,  à maioridade, à prisão.  Não existe salvação, é o que está aí. Aí estava Oito, entregue à própria sorte, entre a mendicância, o furto, o roubo... reproduzindo a escalada da violência que conheceu deste sempre. Catava latinhas ao fim de suas pedras. Era ruim de assalto, o último lhe rendeu anos de reclusão em virtude do latrocínio. Era melhor lá dentro, porém difícil arrumar mulher. Agora 8...
...conheceu 2. É a sua chance de se arrumar. Sua cabeça confusa ainda conseguia funcionar em prol da malandragem.  Honestidade?  Não é que não saiba, simplesmente não  conseguia compreender.

E por que haveria de compreender?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Capítulo XII - Despeja-se o Magma Cítrico

 2 não assimilara a sabedoria da vida. Com sua compulsão por malandragens há muito viciara-se em seus usuais pequenos golpes.
 8 não assimilara a sabedoria da vida. Da esperteza dissolvida pela manguaça e posteriormente por pedra (levaram tudo). Agora só força bruta de um cérebro que não consegue fazer a menor força. O peso dos músculos malhados à carroça contrastam com a frivolidade dos pensamentos morais. Superego nulo.
Duas mentes que não valem por uma não podem compor plano mais paupérrimo: saquear a casa do patrão, sob a justificativa de anos de exploração! Assim, de sopetão! Planos mirabolantes que surgem depois de coitos consumados, depois de consumos de substâncias, depois de qualquer coisa.... projetos paridos de sustos tentem a desmoronar tal qual castelos de biscoitos de polvilho.
A lhanura de tal improvisado plano de furto é azo para lotar as cadeias nacionais. Se for para ser burro é melhor ser honesto. Infelizmente a safadeza fala mais alto. E tem passado de 80 decibéis ultimamente.


 12 era jardineiro. Tinha na face as rugas do titã Atlas. Uma infância e juventude tão miseráveis quanto  de Dois. Sua miserabilidade traduzia em suas roupas ordinárias de cores cáqui e outros tons sóbrios. Tecidos pesados, como suas mãos, como seus pensamentos. Não conseguia falar muito. Ouvir, ouvia, mas ignorância alheia lhe doía aos ouvidos. Por duas vezes na semana, ia à casa de Um para tratar do exterior da propriedade. Não lhe davam nem um copo d'água, nem mesmo Dois. Bebida da torneira mesmo. Estava acostumado. Não perguntava à Deus das agruras  da vida, simplesmente passava por elas sem se queixar. Era honesto, apesar de não precisar. Era sábio, apesar de também não precisar sê-lo. O tempo foi duro com sua pessoa, mas não devolvia ao mundo seu pesar. Digeria tudo e devolvia em jardins ornados, paisagens deslumbrantes e flores raras. Flores que não cobrava para colocar, colocava-as de graça, só recebia pela poda e corte da grama. Certamente devia ser um artista, pois aformoseava seus canteirinhos com delicadas poesias florais.
Um ganha pão extraído de todo esterco que levava para o labor diário, cavucando a terra, lama, suor... Tinha  direito ao sono dos justos, pois quando terminava sua alma estava limpa e tinha a plena sensação de dever cumprido. Só não conseguia dimensionar grandiosidade de sua obra... que ficasse para os outros.
Doze só não gostava da corrupção do homem. Não tivera ensino religioso, muito menos gostava de religiões. Detestava-as todas. Porém seguia seus mandamentos sem saber. Passou fome e não roubou, teve ódio e não matou... simplesmente nasceu assim... sábio e bom.

 Três estava independente. Com dinheiro, com amantes e com poder. Era o ápice de seu proselitismo feminista. Girl Power. Era preciso agora colocar seu nome na Capital. 
Só era paradoxal trair seu ex marido sem o menor pudor e ainda acusá-lo de seu crime ao mesmo tempo que estava livre para trair o seu partido, mas não conseguia (?!). Por que?  Sua perfídia conheceria algum limite? Ou era apenas um momento de tédio?
Vai saber.

-Como pôde 3 ter sido tão cadela?!
A misoginia retumbava no ancião, o Senhor... Vossa Santidade.
O rosto sereno e o bigode bem aparado. Um rosto de "tudo bem".
Tudo bem, mas ele não esquece, o partido não esquece, os políticos em geral não esquecem. São como os juízes... rastejam para se vingar, comem poeira... se vingam calados, mas se vingam bem. 'Tudo bem'.
Quanto mais asquerosos melhor. Aqueles que têm nojo não querem se misturar, melhor para eles, pois quem não põe a mão na merda será inevitavelmente governado por um. Daí não serão as mãos, será então o pulmão, o ar, a tevê, a internet, sabe-se lá mais o que?!
Três sabe lidar com eles. Partindo do princípio de que sabia a arte da escatologia, bastava uma luvinha de borracha e mãos-à-obra! De moedinha em moedinha fazia sua caminha. Pecunia Non Olet: O provérbio mais sacrossanto dos brasileiros. Todos sem exceção. Todos. Todos são Três. Todos nós somos Três. 3 somos todos nós.
Talvez para o mais velho deles 3 fosse uma cadela, mas para a cadela... era terça-feira.

Plágio!